quinta-feira

Os homens


Sofia atende o telefone e fica a falar com Júlia durante algum tempo. Desliga o telefone com ar intrigado e apressa-se a acabar o seu banho. Agora tinha razões maiores para ir mais depressa ao escritório. Júlia iria buscá-la depois de almoço, já que durante o almoço estava ocupada com um cliente e não poderiam falar.
Frederico tinha-a deixado antes de ir assinar um contrato qualquer. Não lhe perguntara o quê nem ele lho dissera. Afinal nada sabia da vida dele. Em todo o tempo que passavam juntos nunca conversaram de coisas pessoais. Eram coisas banais e divertidas num tom sempre atencioso que vinham á baila. Parecia-lhes bastar isso. Afinal ele estava sómente a ajudá-la por se sentir na obrigação de o fazer... O que era curioso é que parecia sentirem-se bem e tudo lhes parecer fácil e normal.
Os homens... Nunca tivera dificuldades em relacionar-se com o sexo oposto. Tudo fluía naturalmente até que por vezes as vidas se cruzasssem de forma mais profunda. Aí começavam as grandes diferenças entre todos os homens com quem se cruzara. Com todos aprendera novas formas de estar e ser. Crescera e fizera de si o que era hoje. Com as alegrias, as tristezas, os sonhos e as desilusões, fez-se mais forte. Construiu-se outra, perdendo e ganhando aqui e ali. Descobriu-se mulher inteira no renascer das amarguras do amor. Não se tornara uma mulher fria, mas sabia agora distanciar-se das coisas e vê-las numa perspectiva mais alargada. Como se o propósito das coisas não lhe pertencesse só a ela. Fosse parte de algo maior. Sentia que nada lhe acontecia por acaso e que nada lhe pertencia verdadeiramente. Como se fizesse parte dum todo que ganhava ou perdia conforme ela o fizesse. Decidira não se deixar vencer.

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