Pediu a Júlia que a deixasse ver o manuscrito. A curiosidade venceu-a. Queria saber mais do homem com quem se cruzara e aquela era a forma ideal. Julia não lhe dissera nada de propósito. Deixara tudo em branco para a amiga descobrir. O sorriso que deixava desenhar-se fazia antever agradáveis surpresas.
Foi uma cópia do manuscrito que guardou na pasta que a acompanhava sempre. Parecia-lhe levar um pedaço da alma do homem que tão mal conhecia. Pareceu que sentia o coração um pouco mais acelerado. Não podia ser. Era só mais um manuscrito qualquer. Estranhara ver as letras desenhadas num tempo em que os computadores dominavam e faziam as letras terem um só dono e uma só mão a dominar os riscos. Num tempo em que as personalidades se esvaíam no sempre igual que os teclados dominam. Não percebera ainda porque não lhe tinham exigido que tivesse uniformizado a letra e a forma de apresentar a obra. Ocorreu-lhe a forma clara como percebeu as palavras que lhe vieram de imediato à memória “ Se Deus em mim te tivesse feito água, seria nem margem, nem escolho, tão só sede!”.