terça-feira

Intervalo


Às vezes perco-me na vida de Sofia e páro um pouco. Não sei já se falo dela ou de mim. Se me debruço nas varandas dos seus sonhos, receios ou só memórias ou se é nas minhas que vagueio. Então sustenho-me. Encho os pulmões de ar, fecho os olhos e estendo-me para lá de mim. Porque é isso que quero fazer quando dela falo. Quando falo dos seus amigos, namorados, parentes... Exilar-me num mundo em que as memórias não me fazem falta, não são a argamassa de que me construo. São então um apêndice qualquer que num dia qualquer sob o risco duma infecção qualquer se extirpa dum corpo a que não faz falta nem dá sentido.
Procurar os meus rumos perdendo-me na vida dos personagens que crio torna-se um vício que teimo em perder. Por isso me alongo, me distancio e de longe observo os movimentos que podendo ser meus são doutros porque não os quero adoptar. E não querendo ser outra acabo por ser a que crio no inverso da meada que teço.

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