quinta-feira

A bicicleta


A última decisão que tomou foi a de ir de bicicleta para o trabalho. Foi no início da Primavera. Não podia ser em melhor altura. O tempo sorria ainda tímido mas decidido. Precisava de começar a mexer. Por dentro e por fora. Revirar-se. Dar luz ao avesso de si. Arejar. Vida nova podia começar agora. Nas pedaladas que daria ao começar o dia.
Já era tempo. Apesar de enferrujada como também a bicicleta estava. Um pouco aqui e ali. Nada demais.

Soube-lhe bem. Apesar de entorpecida e quase sem sentir as pernas quando desceu da bicicleta. Anestesiada.
Como andava da vida. Por tanto tempo…
Andou o que lhe faltava sem saber como. Foi de cor que o fez. Como tanta vez o fazia. Sentiu a vontade e a urgência de fazer coisas inesperadas. Coisas nunca feitas.
Amanhã faria um percurso diferente. Mesmo que saísse ainda dormente teria de aprender a fazê-lo doutra forma por outros lados.
Precisava mesmo de o fazer acontecer.
Sentia ter feito uma boa decisão. Pequena, simples mas importante.

Sorriu. Inspirou profundamente, sentiu-se feliz.

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