terça-feira

O João


Conhecera João nos seus anos de faculdade. Não faziam parte nem do mesmo grupo. Chocaram um dia um no outro. Literalmente. João sempre fora um pouco desajeitado mas, tinha um humor delicioso. Era um pouco sardento, um pouco mais alto que ela e não muito forte embora já mostrasse uma barriguinha. Tinha também umas pequenas entradas que lhe davam “um charmezinho” como Sofia gostava de salientar.
Ambos estavam carregados de papéis que voaram por todo o lado. Baixaram-se de imediato e tentaram no meio da confusão encontrar os que lhes pertenciam. Claro que trocaram alguns. Mas no meio da confusão não se deram conta e na altura mal falaram. Ambos estavam com pressa e cada um foi para seu lado. Tiveram tempo para se olharem de lado e aí cruzarem o olhar que logo devolveram a si próprios. Afastaram-se. Cada um contou aos colegas o sucedido e acabaram a rir do que se passou.
Foi a troca de papéis de que mais tarde se deram conta que os fez procurarem-se e voltarem-se a encontrar. Teria sido outra coisa. Tanto João como Sofia se tinham decorado. Foi fácil o reencontro. Procuraram-se no mesmo sítio como se tivessem combinado fazê-lo. Riram-se um com o outro do que se passou e combinaram trocar palavras e beijos em vez de papeis que falassem de direito ou economia.

Hoje enquanto pedala a caminho do trabalho, passeia estas memórias consigo. Talvez Maria Henrique encontre também o pai dos seus filhos na faculdade. Talvez viva os primeiros amores como ela os viveu.

O João foi o primeiro grande amor que Sofia teve na faculdade. Onde estará e que será feito dele? Sempre lhe ficou a curiosidade desde que deixou de o ver. As lembranças que ele lhe deixou fizeram com que ela de alguma forma o idealizasse, o construísse num outro qualquer sítio. Talvez o João nem se tornasse o homem que ela sonhou…

Foi nesta balbúrdia de pensamentos que Sofia sem dar conta é abalroada por um cão que se atravessa á sua frente e acaba por cair da bicicleta. Tentou levantar-se mas a dor que sente no tornozelo é mais forte e acaba por quase desmaiar. O único rosto que vê á sua frente é o de um homem que não reconhece e lhe pergunta, está bem? Depois só se lembra do som da ambulância.

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