terça-feira

Partilha


Nessa noite apesar do cansaço e de algumas dores que nem os analgésicos conseguiam resolver Sofia e Maria conversaram até á exaustão. Era já de madrugada quando finalmente cederam e acabaram por adormecer na cama enorme de Sofia.
Há muito que não o faziam e as gargalhadas que deram saíram-lhes com mais vontade do que nunca. Falaram de coisas esquecidas e deram-lhes de novo vida arejando-as, tirando-lhes os cheiros a bafio que se tinham já instalado. Redescobriram cumplicidades e vontades de partilha. Este tempo de ausência apesar de necessário atirara-as para caminhos diferentes e procura de novos rumos e formas de estar. Tinham-se quase esquecido de como era bom serem e estarem as duas. Como sempre tinham estado.
Sofia acordou com o sol a bater-lhe na cara e uma ligeira dor no tornozelo. Quis levantar-se e lembrou-se do gesso e do incómodo que ele lhe provocava. Tentou não acordar Maria que ainda dormia e devagar rastejou para fora da cama. Tinha sede e também alguma fome. Tentou ir até á cozinha sem fazer barulho, encostada á parede e apoiando-se ligeiramente no pé engessado. Foi uma gargalhada que a fez virar-se. Mãe que figura fazes! Maria Henrique entretanto acordara e observava a mãe que ao tentar não a acordar fazia movimentos pouco elegantes.
Levantou-se dum salto e ajudou a mãe a ir até á cozinha onde lhe preparou o pequeno-almoço. A seguir foi a confusão do banho. Aí Sofia fez questão de fazer tudo sozinha. Só precisava dum bom saco plástico para proteger o gesso. Não era nenhuma inválida!
Daí a uma hora chegou Frederico que levou mãe e filha ás compras. Sofia não quis ficar sozinha. Também quis participar. Tinha de o fazer. Depois teria de ir até ao escritório. Tinha coisas a resolver. E tinha ainda de falar com Júlia. Contar-lhe acerca do telefonema de Francisco e saber o que se passava. Ela devia saber mais alguma coisa. Estava curiosa. E…
Frederico, você deve ter a sua vida, não pode andar sempre atrás de nós, a cuidar de nós… Diz Sofia a Frederico, preocupada. Frederico responde-lhe que não. Não se preocupe, devo-lhe isto. É minha obrigação. E para já não tenho mais nada a fazer. Já lho disse. Quando tiver, lho direi.
Ah, amanhã vou trazer o Hércules. Quero que o conheça e lhe perdoe, se puder. Eu gostaria que assim fosse. Posso fazê-lo?
Claro, responde Sofia, traga-o. Não tenho razões para não gostar dele. Foi um acidente. Só isso. E a Maria também gostaria de o conhecer, aposto.
Fica combinado, então. Amanhã vamos passear o Hércules.

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