sábado

O tempo


Decidiu mimar-se. Despiu-se, cobriu cuidadosamente o gesso com matéria plástica e no fim vestiu-lhe um saco plástico que selou cuidadosamente. Pegou nos sais, deitou-se na banheira, cobriu-se com eles e deixou que a água morna que tivera o cuidado de temperar antecipadamente a cobrisse devagarinho e desfizesse os sais que começavam a libertar o aroma e a espalhá-lo por todo o corpo. Deixara a perna levantada, engenhosamente apoiada a um apoio de banheira. Uma musiquinha suave enchia o ambiente e levava-a a viajar. Não sabe por quanto tempo ficou ali. Perdia-se ás vezes no tempo. Por tempo demais. E tanta coisa passava por ela sem se dar conta! Era tempo de dar conta do tempo. Pensou um pouco nos últimos dias e no que lhe tinha acontecido. A ela, a Júlia, a Maria, a todos que se cruzaram com ela duma forma ou doutra. E admirou-se de tanta coisa em tão pouco tempo. E questionou-se com tanta outra. Afinal nada sabia de Frederico. E Francisco, que novidades trará?
Há algum tempo já que não falava com Júlia e pressentia-a preocupada, quase ausente. Tinha de tirar um tempo para falar com ela. Ai o tempo! Esse atrevido que não se mede nem deixa medir. Não se contem nem deixa conter. Passa sem deixar nem sombra de tão rápido avançar. Mesmo que por vezes pareça lento. Ilusão, mera ilusão. O mesmo sol e a mesma lua num só abraço o fazem ser sempre o mesmo, sempre igual.
Mãe! E Sofia acorda dos pensamentos que a levaram dali. Sim, Maria! Responde.
Maria entreabre a porta duma casa de banho enevoada, telefone para ti, é a tia Júlia. Atende.

Nenhum comentário:

Postar um comentário