A vida de Sofia partilhada com outras vidas entre solidões, medos, alegrias e tristezas, planos, viagens, partidas e chegadas, encontros e desencontros. Como tantas outras vidas.
sexta-feira
Chuva miúda
Ás vezes os planos parecem morrer por coisas simples. Ou então fazem-se adiar. E deixam-se adormecer na preguiça de voltarem a recomeçar. Foi o que a Júlia logo lhe disse quando a viu chegar no conforto do seu velho companheiro. Disseste adeus á bicicleta? Sofia sentiu-lhe a ironia. Quase sentiu raiva da chuva miudinha de que tanto gostava quando se sentava á lareira nos dias de inverno e escutava Diana Krall ou outra voz que a embalasse e a transportasse para outro mundo que não o dela.
Aquele cabelo rebelde não gostava de chuva. Acordavam os caracóis que despontavam por todo o lado sem qualquer sentido estético. Houve um tempo em garota em que deixava que a chuva lhe moldasse os caracóis. Ainda o cabelo era virgem. Nada de tintas. Ficava sedoso e os caracóis brincavam harmoniosamente. Tivera canudos. Como tudo se modifica!
Acorda Sofia! Ultimamente andas ausente Ficaste com a bicicleta em casa! Voltou a ironia. Pois, a bicicleta…
Não, não adiara planos. Iria voltar á bicicleta. E mais, á fotografia. Descobrira ontem a velha máquina. Talvez até comprasse uma digital. Agora de bicicleta, pararia mais vezes, via mais coisas. Apetecia-lhe gravar o que via. Guardar.
Às vezes perguntava-se se não seria da idade. Ou da solidão.
Quando tudo se vai…
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